Filmes de 2015

sexta-feira, 6 de novembro de 2015

Resenha O Vilarejo


O Vilarejo


                                               

                             O Vilarejo, de Raphael Montes, editora Suma das Letras, 2015


Sinopse: Um vilarejo que sumiu do mapa. O tempo o apagou do mundo, da história, da mente das pessoas. A única prova de que o local existiu é a vida de seus moradores, as histórias que ficaram registradas em um caderno com ilustrações macabras. Explore um lugar perdido no passado e, através de um quebra-cabeça cheio de surpresas, conheça o destino de seus habitantes, há muito esquecidos.

Resenha:

Mesmo que seja um tanto antilinguístico iniciar uma resenha com uma citação, desta vez, vou me permitir fazê-lo: " O Vilarejo é um livro para ler numa sentada só (...)", estas foram as primeiras palavras de André Vianco ao avaliar o último trabalho de Raphael Montes, sábias palavras, por sinal, quando nos referimos ao merecido destaque de O Vilarejo, um romance visceral e assombroso, com um profundo toque gore em cada página, e, como muita gente já disse, o único defeito deste livro é ser breve demais.

" A cada capítulo, conheça a história de um habitante, e como todas elas se entrelaçam para formar uma narrativa perturbadora e fascinante sobre nossa infinita capacidade de crueldade e compaixão."

Bom, o livro é composto por 93 páginas, divididas em 7 contos entrelaçados, permeados pelos 7 pecados capitais, associados a 7 demônios, diretamente responsáveis por potencializar os 7 pecados na conduta e ações das personagens. Peter Binsfeld, bispo, teólogo e demonologista alemão do século 16, catalogou estes sete demônios que representam: a inveja, a ganância, a gula, a ira, a luxúria, a preguiça e a vaidade, Peter também ganhou notoriedade por ser um ferrenho caçador de bruxas, e, o fato de seu ilustre trabalho estar associado com aos 7 demônios que nomeiam os capítulos do livro, sem dúvidas, foi uma jogada de mestre, pois propõe uma temática de realidade dando um respaldo verídico a história.


As narrativas de O Vilarejo, nos levam de volta às lendárias fábulas contadas há séculos, na tentativa de coibir a maldade que existe na humanidade. Nada de lobisomens, vampiros ou bruxas, mas algo real, tenebroso, que poderia ter acontecido em qualquer cidadezinha do interior ou mesmo em algum bairro afastado. No entanto, a maior catarse no enredo de Raphael, é a concretização das personagens, apresentadas com uma roupagem comum, tecidas a partir de uma reputação ilibada acima de qualquer suspeita. Violentados pela guerra, pelo inclemente inverno, pela fome que senta-se à mesa e pelo desamparo, os pacatos habitantes são facilmente recrutados pelos demônios de Binsfeld, se tornando predadores sombrios, pedófilos inclementes e canibais assassinos.
Outro ponto que impressiona, neste trabalho de Raphael, foi o modo pelo qual o autor selecionou, organizou e executou a estrutura da narrativa, realizada a partir de um misterioso manuscrito, redigido em cimério, uma língua morta, e que pertenceu a Elfrida Pimminstoffer, uma idosa que faleceu de câncer. Nada se sabe ao certo sobre a vida de Elfrida, porém, é chocante como o posfácio finaliza o livro. É pouco provável saber até que ponto a veracidade dos fatos é simultânea à narrativa, pois os únicos cimérios conhecidos foram um antigo povo indo-europeu que viveu ao norte do Cáucaso e do Mar de Azov, por volta de 1300 a. c., inclisive, Conan, o Bárbaro era cimério, mas, semelhanças à parte, o resultado é o belo trabalho orquestrado por Raphael, estruturado em formato fix-up, os contos de O Vilarejo são curtos e rápidos, porém, densos de conteúdo, embalos por uma cronologia envolvente que retrocede numa alternância indireta culminando em um fantástico e surpreendente desfecho. Ao contrário de muitos livros, o prefácio e o posfácio são relativamente intrínsecos ao enredo e funcionam como ponto de partida com explicações atinentes e informações finais, nesta ordem respectiva.


Outro ponto digno de destaque, refere-se ao ótimo trabalho de diagramação e ilustração realizados em conjunto por Marcelo Damm e Rafael Nobre, que, tecnicamente, conseguiram entender e visualizar a mensagem do livro.
É realmente uma pena que tenhamos que devorar O Vilarejo, " em uma sentada só", o projeto de Raphael é bastante audacioso e foge aos padrões das demais editoras, mas, é uma leitura mais que obrigatória para os fãs do gênero que ficarão à espera de mais notícias sobre o vilarejo ou até uma possível narrativa esclarecedora sobre a misteriosa Elfrida Pimminstoffer. Uma coisa é certa, as breves 93 páginas de O Vilarejo proporcionam, pelo menos, 1 hora de boa leitura.

                                                          by Stela Bagwell

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